quinta-feira, setembro 05, 2013

O segredo dos grandes compositores britânicos

Músico e compositor, Daniel Rachel escreveu em parceria com a jornalista Caroline Sullivan o livro “Isle of Noises”, que reúne entrevistas com diversos músicos britânicos famosos. O foco das conversas está no processo criativo utilizado naquelas que podem ser consideradas as maiores pérolas da música pop mundial. Com a palavra nomes como Ray Davies (The Kinks), Jonny Marr (The Smiths), Lily Allen e outros. Selecionei trechos, a partir de material publicado no The Guardian de hoje, com o depoimento das seguintes figuras:

John Lydon, Sex Pistols

(Show com a banda PIL, em 1986 / Ives Lorson - Wikimedia)

DR: Você carrega um caderno para anotar frases ou ideias?

JL: Não. Eu nunca faria isso. Urrgh, não sou um integrante do The Clash. Eu me lembro que o Joe Strummer costumava assistir o The News at Six* e anotar os slogans e frases que seriam utilizadas nas canções. Ele não perdia tempo e escrevia coisas como “sten guns in Knightsbridge**” e “White Riot”. Além de ser totalmente fabricado, considero isso ridículo!

Mick Jones, The Clash

Show no Carbon Casino, em 2008. (Pmsphoto - Wikimedia)

DR: Como é que você e Joe Strummer uniam suas ideias para então levá-las ao resto da banda?

MJ: Às vezes eu andava com um gravadorzinho de fita cassete. “Complete Control”, por exemplo, foi feita assim. Em “London Calling” fechamos a letra, mas acabei dando uma suavizada na música que antes tinha uma batida mais robusta... Acho que essas canções vinham quase prontas... Somente mais tarde é que nós partimos para uma pegada mais experimental. Mas, depois, tivemos que cortar esse lado também. A exemplo das duas ideias para “Casbah”***. Bernie [Rhodes]**** disse: “Porque tudo que vocês fazem tem que ser raga?”. Você sabe, aquela música longa... no mesmo ritmo de sempre. Nesse dia, enquanto o aiatolá dizia que não gostava de rock'n'roll, Bernie nos pedia para encurtar tudo. Então o Topper entrou no estúdio, foi incrível. Ele pegou três coisas: o baixo, o piano e a bateria. Eu fiz o refrão “Shareef don't like it”, enquanto o Joe fez a letra. No entanto, Topper foi o grande maestro.

Annie Lennox, Eurythmics

Fac-símile capa do disco Revenge (Reprodução - Wikimedia)

DR: Você continua tomando conta de tudo nas composições como na época da parceria com Dave Stewart?

AL: Eu nunca pensei dessa maneira, acontece que eu escrevia as letras e o Dave trabalhava como um tutor/mentor nesse departamento (composição). Às vezes, eu escrevia 90% de uma canção... como em “Sisters Are Doin' It for Themselves” ou “There Must Be an Angel (Playing With My Heart)”, onde o Dave contribuiu com ótimas sacadas musicais em termos de forma e estrutura. Ele também ajudou bastante em ideias que começaram do zero, como “Sweet Dreams” e “Here Comes the Rain Again”. Em razão de ser aficionado por tecnologia de ponta, Dave era definitivamente o responsável pela parte técnica do processo de gravação. Nesse sentido, ele pode até ser considerado o “produtor”, embora eu também atuasse de forma mais orgânica na produção. Nós sempre dividimos tudo meio a meio, e é assim que enxergamos a nossa parceria.

* Noticiário da BBC de Londres, talvez comparado ao Cidade Alerta.
** Verso da canção 1977, do disco The Clash. Knightsbridge é um bairro de Londres, em livre tradução a frase seria algo como “as pistolas alemãs em Knightsbridge”.
*** Rock The Casbah, canção do disco Combat Rock.
**** Produtor e empresário da banda The Clash.