Autor: Daniela Hernandez
Fonte: Wired
Sneak de frango falso (Foto: http://www.quarrygirl.com)
Pensando em mandar um suculento x-burger duplo? Você não está
sozinho.
“Existe uma relação de amor com a cultura da carne”, disse
Ethan Brown, CEO da start-up produtora de carne alternativa
Beyond Meat, algo como “Além da Carne”, na 5ª
Conferência de Negócios da Wired, em Nova Iorque.
Brown participou do evento e esclareceu algumas questões sobre o
tema.
A Beyond Meat, com sede em Maryland, é voltada para o mercado de
carne sintética e tem como carro-chefe as tiras de frango falso. No
entanto, o público da empresa não são necessariamente vegans
e vegetarianos*, mas sim os flexs, uma nova espécie de
carnívoros ambientalmente conscientes que se satisfazem degustando
tanto um tofu quanto uma costela de porco. Segundo Brown, os flexs
somam cerca de 90 milhões de pessoas nos EUA, e muitos deles estão
se despedindo da carne. Se depender de Brown, mais gente vai entrar
para a turma.
Essa estratégia inclusiva faz da Beyond Meat uma empresa
diferenciada em relação às outras que atuam no mercado de carne
alternativa. Eles não querem trabalhar com um produto especializado.
Almejam ser a Tyson ou a Perdue** dos produtos de carne à base de
vegetais, e fazer algo tão popular quanto o bife frito, o frango
assado e o churrasco de picanha.
Tendo em vista movimentos como o Meatless Monday, ou a Segunda Sem
Carne, que ganham popularidade em toda a América, Brown considera
que em pouco tempo o Silicon Valley deve começar a investir em
companhias de alimentação. A Beyond Meat também está atuando
pesado nas redes sociais, divulgando seus conceitos além dos
tradicionais consumidores que não comem carne. De fato, a empresa
possui mais seguidores no Twitter do que marcas antigas e mais
conhecidas como a Tofurky.
Por enquanto, a Beyond Meat, que recebeu aportes do fundo de
investimentos Obvious Corporation, dos co-fundadores do
Twitter Biz Stone e Evan Willians, trabalha apenas com carne de
frango, mas planeja expandir em breve os negócios para a carne
bovina.
Ao tentar colocar seu produto entre a carne bovina, suína, de peixe
e aves, tornando-o um alimento básico como qualquer outro, Ethan
Brown se posiciona à frente da revolução da carne falsa. Essa
proposta, acredita ele, pode mudar o jeito como as pessoas
pensam a respeito dos substitutos da carne. Atualmente, os Tofurkies
e Boca Burgers da vida estão relegados às sessões vegan ou
vegetarianas dos supermercados, o que Brown chama de banco de
reservas. Ou seja, os produtos não estão ao lado das carnes que eles
supostamente iriam substituir. Este é o problema, no que outros
especialistas concordam.
“Uma nova opção de alimento só é alternativa de verdade se
estiver lado a lado dos produtos tradicionais”, disse Isha Datar,
diretora da New Harvest, uma organização sem fins lucrativos que
defende o consumo de fontes alternativas de proteína. “A não ser
que você seja vegan, não se sabe onde esses produtos estão
nas lojas. Na minha opinião, isso não é uma alternativa real”.
Ajudar as pessoas a mudar seus hábitos alimentares pode ser crucial,
uma vez que alguns estudos indicam que a maneira de se produzir e
consumir carne não é nenhum pouco sustentável.
“O setor de transporte contribui com 18% das emissões dos gases
que causam o efeito estufa. Já a pecuária, de acordo com as
estimativas, contribui com 51%”, disse Ethan Brown durante a
conferência. É esse cenário que o inspira a engatar a primeira
marcha na área de proteínas e acelerar em direção à comida.
A carne falsa de frango, que agora é vendida em lojas
especializadas, é resultado do trabalho árduo de Fu-hung Hsieh e
Harold Huff, dois cientistas da Universidade do Missouri, em
Columbia, que há 15 anos se dedicam ao projeto (tecnologia cuja
patente a Beyond Meat é detentora exclusiva). Hsieh e Huff passaram
anos aprimorando a maneira de se resfriar, aquecer e pressionar a
mistura de proteína de soja, através de uma extrusora, até chegar
na aparência e textura mais semelhante possível de uma tira de
frango natural.
Segundo Huff, um dos criadores da carne falsa de frango, uma das
primeiras coisas que as pessoas avaliam em um alimento é a aparência
e, depois, a textura. Em terceiro ou quarto lugar, está o sabor. E
tem mais. “As pessoas não querem comer um frango e sentir outro
sabor que não seja de tudo aquilo que foi utilizado no preparo,
desde os condimentos até os temperos. Ninguém quer saber do gosto
da carne de frango em si. E uma das vantagens desse produto é que
vai bem em qualquer época do ano”, disse Huff.
O cientista informou que continuará trabalhando com a Beyond Meat
para desenvolver novas alternativas à carne de frango, bem como para
ajudar Brown a alcançar o seu objetivo de expansão da proteína
vegetal. Brown quer ver a proteína animal seguir o mesmo caminho das
carruagens após o advento do automóvel. “Por ventura, foi
necessário se desvencilhar dos cavalos”, concluiu.
* Veganismo é um estilo de vida em respeito aos animais e que,
portanto, evita o consumo e o uso de qualquer produto de origem
animal (Fonte: veganismo.org.br). O Vegetarianismo tem a mesma
filosofia alimentar, mas no cotidiano utilizam alguns produtos de
origem animal (Fonte: centrovegetariano.org).
** Redes norte-americanas de produção e venda de carne de frango
a exemplo da Seara e da Sadia, mas como lojas exclusivas no varejo.
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