Blog do The Guardian acompanhou o Prêmio de Jornalismo Científico
Wellcome Trust 2013 e perguntou aos principais jornalistas do setor
como é trabalhar com ciência.
Sala com genomas no Wellcome Collection (Russ London/Wikimedia/Commons)
The Guardian: O que faz uma história sobre ciência ser
interessante?
Penny Bailey: “Intensidade”, a história tem que mexer com
você. E os sentimentos de intensidade surgem a partir de uma série
de abordagens, tais como:
- Os aspectos humanos da história – com a exposição das
principais características do (s) personagem (ns) e a sua jornada
pessoal –, o lado científico e as pessoas cujas vidas serão
afetadas pela ciência.
- Alguns elementos inerentes ao drama – como por exemplo, os
obstáculos aparentemente intransponíveis, concorrência, tomada de
decisões, problemas e soluções, e cronogramas.
- As surpreendentes artimanhas científicas.
- O ineditismo da história – se a história não é inédita,
deve-se abordar o assunto de uma forma diferente, nova.
É preciso entender de ciência para se escrever um bom texto?
O importante é contar uma boa história. É óbvio que se você
entende de ciência, ou dos temas relacionados com a área, sua
discussão será mais consistente.
Como você começa os seus textos?
Eu costumo escrever todo o artigo primeiro para depois fazer o lead
(embora eu já tenha idéia do que eu quero destacar). Porque a
abertura é um ponto crítico para atrair o leitor – além disso,
minhas melhores idéias raramente são aquelas que penso de imediato
–, por isso, sempre utilizo abordagens diferentes antes de
selecionar aquela que considero a mais atrativa e relevante para
começar a história.
Como você faz para extrair as informações de um entrevistado?
Ter em mente o que eu pretendo escrever e o que devo questionar junto
ao entrevistado ajuda bastante – assim como deixar claro as minhas
intenções antes de começar a entrevista. É recomendável também
sempre ter uma lista de perguntas. Alguns cientistas são
naturalmente grandes contadores de histórias e, nesse caso, você
tem só que ouvi-los, mas outros – que não deixam de ter boas
histórias para contar – necessitam de um pouco mais de conversa e
incentivo.
Você trabalha com analogias e metáforas nos seus textos?
Sim, para facilitar o entendimento da história ao explicar
conceitos mais complexos.
Quanta informação fica fora dos textos?
Isso depende muito da pauta e do limite de caracteres. Geralmente,
deixo de fora coisas que não comprometem o texto e que realmente não
acrescentam algo novo a história, mesmo que sejam informações
interessantes.
Como equilibrar o texto objetivo com a pegada de um contador de
histórias? É possível?
Se estou avaliando uma situação complexa nas quais as respostas não
são fáceis (ou que não sejam muito claras), tento manter a
objetividade e equilibrar as diferentes opiniões e pontos de vista.
Outra possibilidade, é trazer o furo na resposta final. Se tenho o
meu ponto de vista da situação, foco nos elementos da história
para apoiar essa visão.
Qual é o maior contratempo no ramo de quem escreve sobre ciência?
É muito fácil se envolver com os detalhes técnicos da ciência e
desprezar os elementos que dão vida à história.
Penny Bailey é escritor do Wellcome Trust.
Da Série: O Segredo dos grandes jornalistas científicos
Prêmio de Jornalismo Científico Wellcome Trust 2013
Uma parceria entre o The Guardian e o The Observer
Fonte: The Guardian