Autor: Ted Hodgkinson
O último 31 de janeiro foi marcado pelo lançamento da Granta
Noruega, publicada pela Gyldendal. O primeiro número, cujo tema é
Tragédias, traz não só os escritores noruegueses como também os
colaboradores da última edição em inglês – que inclui nomes
como Alice Munro, Roberto Bolaño e Jennifer Egan. Em meio ao número
crescente de versões internacionais, a editora norueguesa de
novidades da Granta, Trude Rønnestad, falou ao editor online Ted
Hodgkinson sobre a satisfação de selecionar o tema e como ela
conheceu a revista.
TH: Dar espaço às variadas vozes e estilos da literatura norueguesa
esteve entre as suas preocupações enquanto selecionava os
escritores para compor esse primeiro número da Granta?
TR: Sim, até certo ponto tentei fazer um número que gira bastante
em torno da imagem da literatura norueguesa. Aqui, é considerável a
variedade em termos de gerações e níveis de experiência – mas
também de pontos de vista, formas, estilos e gêneros. Na Noruega,
existem muitos bons escritores de não-ficção também – e que, na
minha opinião, não poderiam ser esquecidos. Com certeza, esses
escritores que falam da Noruega contemporânea não estão
representados neste primeiro número da Granta. Tive que selecionar
trabalhos com uma linguagem mais abrangente – onde a narrativa é o
principal: e curta, como são os textos da Granta.
É mais fácil distinguir os escritores dessa edição pelos
conceitos em comum que são compartilhados ou por suas diferenças?
Suspeito que eu não seja a melhor pessoa para responder essa
pergunta, o leitor estrangeiro provavelmente irá reconhecer muito
bem esses traços que as histórias norueguesas têm em comum;
embora, para mim, elas sejam completamente distintas. O humor é
diferente, assim como as experiências e os projetos literários.
Entretanto, eu tenho certeza de que alguém pode perceber, ou
esboçar, alguma coisa particular da identidade norueguesa em
diversos textos, ainda que os temas trabalhados sejam universais.
Além do mais, as características físicas dos personagens são
particularmente norueguesas, sejam eles das grandes cidades, do
litoral ou do interior.
O tema "Tragédia" parece se encaixar muito bem com a atual
situação mundial; como você chegou a esse tema e houve alguma
surpresa na abordagem feita por algum dos escritores?
Nós levantamos diversas ideias para o tema, mas a que realmente nos
contagiou foi "Tragédia". Não só porque estamos vivendo
a era das Falências (ou pelo menos a que deveria ser), seja ela
política, ecológica ou financeira – mas também porque a
experiência do 22 de julho de 2011 está bastante presente em nossas
mentes. Aquilo é um tipo de acontecimento que abalou não só a
Noruega, mas outras partes do mundo. Isso por si só é um tema
literário que pode ser abordado de vários ângulos, desde o
material de caráter intensamente particular até o claramente
político. Vários colaboradores noruegueses escreveram muito sobre o
aspecto pessoal dos colapsos – o choque da morte, a ruína
desesperadora das famílias. Talvez esses reflexos tenham sido –
até aqui – encobertos pelas mais prosaicas formas de falência,
tais como as crises financeiras dos últimos anos.
Dos diversos nomes que poderiam ser familiares aos leitores de língua
inglesa, mas que não são por falta de traduções, você gostaria
de citar algum?
Considero difícil, devo dizer, destacar um único nesta edição. É
uma lista grande e reúne diversas vozes literárias importantes.
Tenho que ressaltar que fizemos questão de traduzir todos os textos
do Norueguês para o Inglês. Acreditamos que o mérito de qualidade
dos textos está aí – quando o escritor é digno de ser lido em
outra língua.
Você poderia nos contar qual seria o próximo tema?
Trabalho. É um tema que já foi utilizado na edição inglesa, mas
nós o consideramos muito bom – além de muito importante – para
abordar. Seria uma pequena ênfase do trabalho na literatura atual.
Você se lembra qual foi a primeira vez que leu a Granta?
Lembro como se fosse hoje. Foi um número de 1983, Bill Buford’s A
Literature for Politics. Eu tinha apenas sete anos, portanto não
poderia ler aquela publicação! Mas anos depois eu encontraria a
revista em um sebo – e isso se tornaria uma lembrança
inesquecível.
Fonte: Granta.com
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